Comentários da equipe

Guido Zandonai (produtor executivo)
Quando vamos ao cinema assistir um filme por mero entretenimento ou pela dramaticidade do roteiro, muitas vezes ou quase sempre, não nos damos conta de tudo que foi produzido para que possamos sair do cinema chorando ou rindo.

Fui responsável pela produção executiva do Doce de Coco, o cara que quase não aparece no set de filmagens, mas que quando aparece traz consigo aquela pasta cheia de notas fiscais, recibos e contratos.

Este é o meu quarto trabalho com o Penna Filho, me sinto muito contente e orgulhoso de participar com ele desta grande aventura que é fazer cinema no Brasil. Produção executiva=ficar dentro do orçamento! Quantas vezes durante a pré-produçao o veterano Penna, com toda a sua experência, me dizia "Guido, lembra do Mazzaropi, olha o orçamento! Não desperdiça.." Com um pouco desta filosofia na cabeça que produzimos o Doce de Coco em 35mm, um milagre para muitos.

A estratégia principal foi a de concentrar as locações, reproduzir e criar os diferentes ambientes em um só lugar. Para tanto alugamos praticamente todo um hotel-pousada na localidade do Ribeirão da Ilha em Florianópolis. Uma região bastante pacata mas que com a chegada de nossa equipe, equipamentos, elenco e figuração virou de pernas para o ar. O encarregado do hotel quase endoidou com a gente: quartos inteiros desmontados e repintados, salas que se transformavam em ateliers, em velórios...

A equipe formou um belo grupo, na fotografia, na elétrica e máquina, nos figurinos e maquiagens, a turma da arte reproduziu um belíssimo atelier de escultura para o nosso personagem principal. Sem falar nas sepulturas cenográficas utilizadas nas externas/noturnas em pleno cemitério do Ribeirão.

Por falar em cemitério, teve um fato inusitado certo dia. Durante três dias filmamos à noite em meio aos mortos e suas sepulturas. Para facilitar o deslocamento do equipamento de luz, bastante importante nesse tipo de cena, o chefe-coveiro liberou a sala reservada aos velórios para guardar o material. Não é que o coveiro me liga um dia de manhã dizendo para esvaziar o espaço pois eles tinham um morto de verdade para velar e enterrar!

Vamos ao cinema prestigiar nossas produções. Dá um trabalho danado realizá-las.

Bom proveito com o nosso Doce de Coco!


Sílvia Beraldo (Compositora e Diretora Musical)
O filme me pegou pela alma por tratar do mais profundo com doçura e densidade, com leveza e humor. Criar a sua trilha sonora foi um trabalho instigante e prazeroso.


Fabiana Penna (Diretora de arte)
Cresci vendo meu pai (o Penna Filho!) rascunhando inúmeras versões do Doce.

Muitos anos depois concretizou-se o sonho de filmá-lo.

Daí aconteceu uma coisa linda: percebi que na verdade, mesmo tendo o roteiro premiado em mãos, eu conservava viva a memória de personagens e cenas das outras versões... tamanho primor da redação!! Não sei de qual eu gosto mais,mas,sem dúvida Doce de Coco me marcou muito com seu realismo fantástico,sua crítica mordaz mas muito bem humorada a respeito de todas as facetas de nossa sociedade.

Doce de Coco pra mim tem cheiro da comida da minha mãe,dos discursos do meu pai e das coisas nossas vividas em família.

E não é que fui responsável pela equipe de arte do filme?! Aprendi a dar asas á imaginação com poucos recursos, tempo limitadíssimo. Muito interessante a questão do filme parecer meio atemporal fazendo com que minha equipe e eu estudássemos as caracteristicas psicológicas dos personagens. E com estes estudos é que foi possível criar cenarios,pensar nos figurinos...

Doce de Coco é simples e profundo, leve e mordaz. A cara do Penna.

Apaixonante!



Adriano Barbuto (Diretora de fotografia)
Participar de Doce de Coco, de certa forma, lembrou parte de minha infância. Fartura, a fictícia e pequena cidade do filme, muito tem a ver com o interior onde nasci. Madalena vendendo roupas de porta em porta traz à minha memória os Yakults, os produtos da Avon que chegavam à minha casa através de vendedoras um pouco parecidas com ela.

Talvez o mundo tenha mudado um pouco em todos estes anos, mas certas coisas permanecem.

Fotografar o filme, e agora podê-lo compartilhar com o público numa sala de cinema, fecha o sonho de um garoto que ia semanalmente ao cinema da sua cidade imaginando os filmes que iria porventura fazer.

Tentei com a luz recriar estes ambientes simples, criando um clima adequado à dura comédia que se desenrola na tela.

Há, neste filme, ecos dos filmes dos anos setenta, das comédias populares presentes no cinema brasileiro de então.

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