Comentários do Diretor Penna Filho

A idéia do filme surgiu na fase em que eu buscava uma linha mais autoral, depois de me submeter a tantos trabalhos de encomenda, filmes de produtor da “boca do lixo paulista”, como se chamava a região da cidade de São Paulo que concentrava produtoras e distribuidoras. Mas sua realização tornou-se inviável a partir do que aconteceu com o filme “O diabo tem mil chifres’, que escrevi e dirigi em 1970, onde eu introduzi referências ao momento político que atravessávamos. Com a censura forte, a exemplo de outros realizadores, servi-me de metáforas e simbolismos. O filme caiu nas malhas da censura e eu fiquei sem trabalho, pois o núcleo de produtores ao qual estava ligado não tinha interesse em discutir política e a nossa realidade.

Se extraísse todas as referências políticas e sociais até poderia ter feito o filme ainda nos anos 70, mas não tinha mais disposição para fazer concessões e preferi me dedicar ao tele-jornalismo.

A diferença para o projeto original está na liberdade de expressão de hoje. Então, me foi possível fazer a comédia de fundo social que pretendia, com todas as referências políticas e ideológicas aparecendo de forma clara e não mais por intermédio de metáforas e simbolismos.

Sem pretensão, o filme procura retratar o Brasil de hoje, com uma proposta de reflexão pelos efeitos perversos da ditadura militar. Nesse cenário, acompanhamos uma pequena família em sua brava luta pela sobrevivência, sem perder a capacidade de sonhar com dias melhores e uma sociedade mais justa.

Por fim, o filme somente se viabilizou graças ao prêmio concedido pelo edital de longa-metragem promovido pelo Governo de Santa Catarina.

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